segunda-feira, janeiro 21, 2008

Sobre a Sonatina de Ravel

Quando um seu amigo partia, Patrick Carvalhal partia em seguida. De nenhum companheiro havia se despedido em toda a sua vida. Em todo o caminho, Patrick nunca disse adeus. Se alimentava de saudades e delas havia plantado todo um jardim. O horizonte já não mais o via. Apenas o rumor do vento fora da janela fechada.
Desse jardim desfiava dia e noite as histórias que ali havia enterrado. Histórias de gente que sequer conhecia, se é que se pode de fato conhecer alguém. De algum que houvesse visto na rua e cuja miséria, corajosamente assumida, houvesse invejado. Ou algum cuja coragem, miseravelmente exposta, houvesse desprezado. Ou o que era, afinal, mais comum; as duas coisas.