sábado, junho 30, 2007

Patrick Carvalhal.

Às 14:06, a secretária levantou-se acompanhada de seu corpete azul royal para mediunicamente pronunciar nome e sobrenome de Patrick Caravalhal, que precedeu a caminhada até o interior do escritório de um breve estiramento espreguiçatório dos braços; prontamente censurado pela secretária através da repetição, agora mais enfática, das palavras "Patrick Carvalhal". Dentro da sala não havia ninguém além das cadeiras e da mesa redonda apertada ageometricamente contra uma quina da parede. O Sr. Couto o fez sentar-se e acomodou-se soltando abruptamente todos os botões do paletó. Patrick julgou que seria conveniente fazer o mesmo, mas os soltou com menor estardalhaço. Aparentemente estavam precisando de alguém capaz de realizar qualquer tipo de gestão de processos, que Patrick inferiu ser apenas a aplicação de algum bom-senso sobre as práticas já correntes na cultura daquela empresa. Como sempre, enredou uma bastante pasteurizada narrativa, que trazia a sua memória os cavalos protagonistas de filmes antigos e o mecanismo peculiar que os fazia mover os lábios. Assim como os espectadores dos filmes de cavalos falantes, o Sr. Couto mantinha-se voluntariamente a parte do dedo que o contra-regra enfiava no cu do cavalo para que este emprestasse de maneira fidedigna sua expressão facial à voz do dublador.

sábado, junho 02, 2007

O homem ainda por curvar-se.

Enquanto guiava seu carro sobre o viaduto, Patrick consegui divisar no olhar de um transeunte a presença de algo sobre a sua cabeça. O transeunte fitava um helicóptero de que Patrick, até então, só tinha notícia pelo som ensurdecedor. O tempo necessário para formular qualquer imagem mais completa sobre a aeronave não lhe foi dado, já que o viaduto acabara e viu-se obrigado a tomar uma decisão frente à bifurcação adiante. Algum inexplicável mecanismo reteve a imagem do homem->helicóptero em sua vista até que nele distingüisse a feição familiar. Mas o traçado do rosto foi pouco eficiente em apressar a pessoa que caminhava lentamente do fundo de sua memória para a retina. Recorreu à composição das roupas do indivíduo sem nela encontrar qualquer elemento suficientemente distintivo e as descartou de primeira. Voltou-se para o aspecto geral. O homem levava consigo o embrião de uma corcova que certamente se pronunciaria em breve e seu olhar pasmo composto com a boca semi-aberta lhe conferiam o status de crooked man. E pronto! Crooked Man, o vizinho de baixo. Não, o vizinho do apartamento da mãe. Nem sempre cordial. Nem sempre disposto a pronunciar o trivial bom-dia. Mas sempre disposto a envolver-se em animadas conversas com qualquer porteiro que estivesse no posto. Era isso que lhe conferia um status mais antipático que a própria corcunda em potencial e a fala, na melhor das hipóteses, monossilábica. O Crooked Man tão interessado em helicópteros. Aí estava uma bela novidade.